

Foste-te
embora à quase vinte anos. A vida ficou mais vazia, sempre
presente o frio da tua da vossa ausência. O Natal deixou de ser o
nosso Natal desde que sofreste aquele “avc” que te deixou marcas
inultrapassáveis, passou o Natal já nesse tempo a ser uma data, uma
festa consumista onde respondemos aos estímulos que a cada minuto o
sistema nos martela a visão e os ouvidos. Vivemos hoje um Natal
prostituído cheio de luzes mas vazio e frio, e vive-mo-lo sem darmos
conta disso. A simples noite de festa pela celebração do nascimento
da Esperança na Paz, na Justiça e na Solidariedade entre todos os
humanos, configurada na imagem do Menino Jesus transformou-se em
muitas coisas sem Esperança, coisas ditas em palavras vazias de
sentimentos mas muito bonitas quando soletradas, ditas em conjunto.
Sabes
mãe, depois que o pai também se foi desta viagem, o sentido desta
data mudou ainda mais, apenas as netas e o neto me animam a fazer
algumas das compras para lhes oferecer.
Ainda
agora cheguei da rua depois de fazer a minha caminhada das sete.
Assim como vocês tinham os gatos que andavam pelo palheiro, também
eu criei laços com um gato de rua que à nossa porta vem comer todas
as tardes-noites e todas as manhas quando o dia esta para nascer, à
hora mais ou menos certa la esta ele aguardando que lhe seja servida
nova refeição. Sabes, as vezes ficamos os dois a olhar um para o
outro, mas não sou capaz de ler o que lhe vai na alma, talvez ele
compreenda melhor o meu olhar, por isso não fugindo de mim não se
deixa apanhar, nem tão pouco me permite fazer-lhe festas, ainda hoje
logo pelas sete lhe disse que era Natal, mas ele impávido e sereno
só quando fiquei a um passo ele deu dois passitos atrás para ficar
a coberto do carro que ali estava estacionado.
Sabes,
nas ruas desta cidade as pessoas que por por cá habitam não
colocaram este ano tantas luzes nas varandas, não vejo tantos
bonecos de Pai Natal a subirem pelas paredes, nem tão pouco as
bandeiras com a imagem do Menino Jesus que os católicos mais
praticantes colocam nas suas janelas e varandas em oposição ao
Natal do Pai Natal. Uns e outros disputando uma data, uma festa, não
sei se um sentir, um desejo de Esperança na Paz, na Justiça, na
Solidariedade.
Lembro
com alguma saudade pela vossa ausência, os nossos Natais simples
como vocês sempre souberam viver e nos ensinaram.
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