quinta-feira, 28 de dezembro de 2017


Foste-te embora à quase vinte anos. A vida ficou mais vazia, sempre presente o frio da tua da vossa ausência. O Natal deixou de ser o nosso Natal desde que sofreste aquele “avc” que te deixou marcas inultrapassáveis, passou o Natal já nesse tempo a ser uma data, uma festa consumista onde respondemos aos estímulos que a cada minuto o sistema nos martela a visão e os ouvidos. Vivemos hoje um Natal prostituído cheio de luzes mas vazio e frio, e vive-mo-lo sem darmos conta disso. A simples noite de festa pela celebração do nascimento da Esperança na Paz, na Justiça e na Solidariedade entre todos os humanos, configurada na imagem do Menino Jesus transformou-se em muitas coisas sem Esperança, coisas ditas em palavras vazias de sentimentos mas muito bonitas quando soletradas, ditas em conjunto.
Sabes mãe, depois que o pai também se foi desta viagem, o sentido desta data mudou ainda mais, apenas as netas e o neto me animam a fazer algumas das compras para lhes oferecer.
Ainda agora cheguei da rua depois de fazer a minha caminhada das sete. Assim como vocês tinham os gatos que andavam pelo palheiro, também eu criei laços com um gato de rua que à nossa porta vem comer todas as tardes-noites e todas as manhas quando o dia esta para nascer, à hora mais ou menos certa la esta ele aguardando que lhe seja servida nova refeição. Sabes, as vezes ficamos os dois a olhar um para o outro, mas não sou capaz de ler o que lhe vai na alma, talvez ele compreenda melhor o meu olhar, por isso não fugindo de mim não se deixa apanhar, nem tão pouco me permite fazer-lhe festas, ainda hoje logo pelas sete lhe disse que era Natal, mas ele impávido e sereno só quando fiquei a um passo ele deu dois passitos atrás para ficar a coberto do carro que ali estava estacionado.
Sabes, nas ruas desta cidade as pessoas que por por cá habitam não colocaram este ano tantas luzes nas varandas, não vejo tantos bonecos de Pai Natal a subirem pelas paredes, nem tão pouco as bandeiras com a imagem do Menino Jesus que os católicos mais praticantes colocam nas suas janelas e varandas em oposição ao Natal do Pai Natal. Uns e outros disputando uma data, uma festa, não sei se um sentir, um desejo de Esperança na Paz, na Justiça, na Solidariedade.
Lembro com alguma saudade pela vossa ausência, os nossos Natais simples como vocês sempre souberam viver e nos ensinaram.

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