domingo, 17 de dezembro de 2017



Para o meu pai a oliveira era como que uma árvore sagrada, era o seu Deus no feminino, que resiste aos tempos de estiagem prolongados, que pode viver várias gerações, bastando apenas que de tantos em tantos anos, sejam os seus ramos e troncos limpos para nos anos seguintes voltar a sentir-se feliz com a doação dos seus frutos aos humanos.
E o exemplo que elas nos dão como que se fundiu nas populações do interior que delas dependiam para o seu sustento.
A batata, o grão, as couves da horta plantadas em Agosto para poderem estar na mesa pelo Natal, uma açorda de pão, alho e salsa com um ovo escalfado ou umas migas de batata da minha avó (apenas e só batatas às rodelas cozidas com água dos poços, uma farinheira e uma folha de louro), tudo ganhava e ganha outro sabor, outra força, outro sustento quando o produto da terra é regado a preceito com o azeite extraído a frio do fruto das oliveiras.
Oliveiras, azinheiras e sobreiros davam e dão sombra e abrigo aos animais de pastoreio. As bolotas que caiam e caem para o chão, as azeitonas que ficam esquecidas nas árvores alimentam animais e aves, dando as bolotas um sabor especial à carne e ao toucinho do porco, mesmo quando eram criados nas furnas que rodeavam as aldeias.
Oliveiras, azinheiras e sobreiros povoam os campos pobres aguardando que do céu caia a bendita chuva que sempre tarda a chegar. Elas, os homens que trabalham a terra e os animais que nelas vivem, olham os céus que de azul celeste vestido, mas triste e dorido pela falta da água que se deve ter perdido em algum engarrafamento celeste.
Oliveiras, azinheiras e sobreiros, assistem tristes às nuvens de pó que os tratores produzem ao lavrarem a terra ressequida pois há que lançar as sementes à terra. Agora, homens, árvores, animais, terra
e sementes todos na esperança que o céu deixe o triste azul e volte a colorir-se de nuvens carregadas de água, para que esta possa cair bem temperada e tudo renasça de novo na Natureza.
Enquanto isso, nas cidades, nas televisões e rádios, papagaios falantes pagos alguns a peso de oiro, dão-nos com ar de satisfação desmedida a continuação do falso bom tempo. Será que é nos corpos ao sol que ainda se expõem nas praias que está o futuro ecológico e sustentável?
E, tudo isto em nome de quê? De que progresso? De que Futuro?

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