Fiz
sete meses no passado dia 25 que não vejo nem dou atenção ao que
dizem ou vomitam as vozes dos donos amestrados em papagaios e
catatuas sem penas que preenchem os ecrãs televisivos, a exceção
são os jogos do Sporting sem som.
Vivo
assim um tempo com mais espaço para ler, para continuar a aprender a
pensar pela minha cabeça, ouvindo o que não nos dizem, vendo o que
não nos mostram.
Leio
alguns jornais sabendo que poucos são os jornalistas independentes
que com espaço escrevem fora da corrente quase unânime que domina a
comunicação social escrita, avida de presumíveis atos praticados
por políticos que indiciem negociatas com amigos quando praticados
por gente do centro esquerda que nos tem governado, muito diferente é
a mesma comunicação social quando se trata de casos semelhantes que
indiciem presumíveis atos lesivos ou trapaças lesivas do herbário
público quando efetuados por gente e em benefício da direita
política.
Quanto
à famosa justiça o que é que podemos esperar depois do caso dos
submarinos, sim o que é que se pode esperar de uma justiça que
passou ao lado da Revolução de Abril? Isenção? Regressemos a
Abril de 1974 quando muitos juízes no dia 24 de Abril atuavam nos
Tribunais Plenários da miserável ditadura para no dia 26
recompostos do susto que o dia 25 lhes provocou, passarem muitos
deles a democratas assumidos que apenas anteriormente julgavam e
mandavam os presos opositores da ditadura para as masmorras de
Caxias, Peniche e Tarrafal porque cumpriam a lei existente. Gente sem
classificação.
A
justiça nunca foi democrata porque na sua essência ela é o
expoente dos interesses da classe dominante, daí
a triste situação a que vamos assistindo cantando e rindo com os
incumprimentos e trapaças dos que por lei deveriam pugnar pelo
cumprimento do segredo de justiça.
No
regresso do fim de semana em Chaves tínhamos duas alternativas, ou
fazíamos a N103 até Braga visitando as Barragens do Alto Rabagão,
também conhecida como Barragem de Pisões. Seguindo-se mais à
frente a linda Barragem da Venda Nova, para depois já mais perto de
Braga a Barragem de Salamonde e da Caniçada, regressando depois por
auto-estrada, ou não sendo um amante de motas nem mesmo de carros
para ir registando em todos os postos de Turismo o carimbo no
passaporte que celebra a Nacional 2, nem tendo tempo para dedicar a
todas as belezas que a mesma encerra e percorre, decidimos regressar
de Chaves Km 0 até onde sentíssemos que era chegada a altura de
entrarmos na A24 ou no IP3 para o regresso a tempo de ir passear a
amiga Sacha.
Fizemos
a primeira etapa sem pressa, quando alguma viatura se apresentava à
retaguarda logo procurava lugar para a deixar passar porque a
paisagem envolvente assim aconselhava tão soberba e bela ela é.
Uma
estrada hoje mítica para os muitos viajantes de mota que connosco se
cruzaram. Não percorri todos os pontos de interesse assinalados no
roteiro, mas percorri todas as muitas curvas da N2 sem delas me
perder já que nas cidades e vilas a sua sinalização é deficiente
e nem sempre respeitada pelas novas estradas de betão do tempo
democrático.
São
738km de Chaves até Faro. Na primeira etapa chegámos a Viseu. Falta
percorrer os restantes, que serão percorridos em uma nova etapa a
partir do km738 em Faro para Norte, ficando depois para percorrer os
restantes quilómetros no centro do país sempre pela N2.
Ontem
dia 25 de Maio sendo o primeiro dia dos restantes de nossas vidas,
foi tempo de voltarmos a Chaves para no antigo BC10, atual RI19,
celebrarmos os cinquenta anos do nosso regresso da guerra em Angola.
Fizemo-lo
em Chaves porque foi nesta cidade no alto de Trás os Montes que em
1972 nos conhecemos formando-nos como corpo militar da 2ª Companhia
do Batalhão de Caçadores 5010.
Fomos,
nós e a 1 Companhia do Batalhão 5017, recebidos pelo senhor major
de Operações Especiais que com uma equipa de militares da Unidade
nos recepcionaram com a apresentação de cumprimentos, prestando-se
em seguida uma simples mas bonita e emocionante homenagem aos
militares que pela honra e glória de Portugal morreram a combater,
para depois efetuarmos uma pequena visita às instalações trazendo
aos que mais tempo passaram no antigo BC10 recordações já quase
esquecidas nas suas memórias de juventude, seguindo-se a missa
celebrada na Capela da Unidade pelo senhor Padre Amorim, antigo
capelão militar do Batalhão de Caçadores 5010, rumando de seguida
o grupo da 2ª Companhia até um restaurante da cidade para
degustando o almoço continuarem o seu convívio celebrando a amizade
que em 1972 começou a ser forjada no antigo BC10 atual RI19 na
cidade transmontana de Chaves.
Deste
dia dia ficou igualmente na memória com agrado por todos comentada o
excelente aspeto, conservação e limpeza das instalações militares
que o atual RI19 mantém do antigo BC10 que para nós, antigos
combatentes da 2ª C. Caç. 5010, será sempre a nossa Unidade
Militar que com o nosso esforço, sacrifício e disciplina procuramos
honrar mas matas longínquas do Mumbué e Ponte de Zadi em Angola.
Cheguei
a Chaves a 17 de Abril de 1972. Cheguei de comboio pelas 14H15 depois
de muitas horas de viagem iniciada na noite anterior pelas quase
23H00 em Santa Apolónia. O país sendo pequeno era demasiado grande
pelo atraso económico e social que vivia e que parecia estar
condenado a viver.
A
concentração dos militares para formarem o Batalhão de Caçadores
deu-se em 28 de Agosto de 1972, para nos apresentarmos no BC9 em
Viana do Castelo a 25 de Setembro, embarcando para Angola no dia 15
de Dezembro desse mesmo ano. Já contabilizava 14 meses de serviço
militar.
Hoje
estamos melhor do que naquele tempo, mas o desenvolvimento económico
e social com que sonhámos após o 25 de Abril deixa muito a desejar,
não é o melhor quanto mais o ideal, vivendo o país subordinado e
vergado às vontades e desejos dos burocratas liberais e
neoconservadores em Bruxelas.
Se
antes vivíamos a ilusão de um império (coutada de meia dúzia ou
mesmo uma dúzia de famílias), hoje vivemos a ilusão de uma
independência de país soberano que já não somos, venderam-nos a
troco de rios de dinheiro que se sublimaram facilmente entre
mordomias, megalomanias e off shores seguros, continuando o país na
cauda da Europa com o carro vassoura sempre à vista.
Do
velho e triste “orgulhosamente sós” passamos a ser apenas “bons
alunos” das políticas liberais-neoconservadoras-bruxelianas que
visam desmantelar o pobre Estado Social que a Revolução de Abril
ajudou a criar.
Hoje
já não se pode chegar de comboio a Chaves, políticos submissos
uns, outros amigos dos novos barões do dinheiro, mais interessados
nos lucros do betão desinvestiram do transporte ferroviário (o
menos poluente de todos); a linha do Corgo como outras, em vez de
modernizada foi abandonada e destruída para gáudio de novas
famílias e grupos amigos do poder (consultores, banqueiros e
empresários do betão), sempre tudo «A Bem da Nação» de má
memória.
No
passeio matinal de todos os dias com a minha amiga Sacha,
atravessamos estradas em alguns sítios passando nas passadeiras
existentes. Ao chegarmos às passadeiras sempre paramos, não tendo o
hábito chegar e atravessar só porque o peão tem prioridade, todo o
cuidado é pouco, o seguro dizem que morreu de velho e já não vivo
tendo pressa.
Quando
chegamos ao parque de estacionamento junto das escolas, básica e
secundária, que serve de apoio aos transportes rodoviário e
ferroviária, como não temos pressa paramos cientes de que os
utentes que circulam nas suas viaturas terão muito mais pressa e
assim deixamos-los passar com muitos a agradecerem a amabilidade. Há
contudo quem não afrouxe a velocidade pois no cruzamento que está
logo após a passadeira tem prioridade e, nem se digne olhar para nós
como se tudo fosse deles. Face a esse comportamento sigo-os com a
vista para observar se vão estacionar no parque ou se vão entrar no
portão da escola secundária. Tristemente, alguns são funcionários
na escola, talvez mesmo professores. Que exemplos darão aos alunos
não faço ideia, pois sou muito crítico ao ensino que no seu todo
se foi instalando no país em nome de uma democracia onde não só a
ética e a moral parecem ser conceitos ausentes senão mesmo
subversivos face ao liberalismo reinante, como também quem parece
mandar nos programas são os senhores da Porto Editora e da Leya que
produzem livros como se fossem enchidos de lucros.
Entrei
no primeiro ano do ciclo preparatório, hoje quinto ano, com ainda
nove anos fazendo diariamente oito quilómetros de bicicleta para
chegar à escola às nove ou num dia ou noutro às oito da manhã,
saindo da escola no final da tarde para percorrer de novo os mesmos
oito quilómetros. Foi um miúdo com sorte porque outros rapazes
tinham de ir a pé os mesmo quilómetros mais ou menos. Foi no tempo
do livro único do regime, mas hoje ao ver o peso dos livros e os
programas que variam consoante a editora e o gosto dos professores
não sei por onde caminha o ensino ou se ainda podemos falar de
ensino como a minha geração o absorveu.
Estava
vivendo o mês de Maio de 1974 nas
terras do quase fim do mundo.
Saí do Mumbué para Silva Porto no unimog do reabastecimento da
Companhia já vestido como
civil. Em Silva Porto viajei de avião para Nova Lisboa. Nesta cidade
conhecia os gerentes do grande Hotel Ruacaná, a esposa do gerente
era de Salvaterra do Extremo
e tinha sido amiga de juventude da minha mãe. Jantei com eles uma ou
outra vez e foram eles que me arranjaram boleia para Luanda com o
gerente da empresa de cervejas Cuca. Em Luanda hospedámos-nos, eu e
o outro companheiro de viagem, no Hotel Katekero
na Praça Serpa Pinto. No dia 19 de Maio de 1974 depois de termos
almoçado e ido ao hotel quando voltei a sair em plena
Praça Serpa Pinto olhei o céu azul de Luanda e disse para mim e
para o universo: - se um dia tiver uma filha irá chamar-se Catarina!
No
dia 20 de Maio aterrámos em Lisboa em voo TAP para cumprir pela
segunda vez o meu mês de férias que os senhores da guerra nos
concediam. Voltei para o
Mumbué em vésperas de S.
João.
Corria
o mês de Junho do ano de 1977 quando fui pai de uma Catarina
realizando o desejo nascido
naquela tarde de 19 de Maio sob
o céu de Luanda.
Ontem
à tarde o meu irmão ficou livre e feliz do peso que o vinha
atormentando.
Há
dois dias enganei-me na data. Hoje sim foi há oito anos a última
vez que falei de voz com o meu pai.
Esta
madrugada voei para lá atrás no tempo do muito tempo, a guerra
voltou aos meus sonhos abrindo-se possivelmente uma janela de luz
sobre o que aconteceu na manhã daquela operação. Não me recordo
se a mesma ocorreu antes ou depois de ter sido chamado à sede do
Batalhão pelo Major Blasco Gonçalves. Recordo que comandava os dois
grupos que naquela operação saímos para cumprirmos mais três dias
no mato; na final da tarde do primeiro dia ao transmitirmos a
localização onde não nos encontrávamos recebemos a notícia de
que a companhia a sul da nossa teria detetado passos de população
que se dirigiam para a área onde deveríamos chegar no dia seguinte.
Tínhamos ficado na nascente do Cuebe e não estávamos nas
coordenadas que tínhamos dado. Decidi levantar o acampamento para
andarmos toda a noite. Aquela era a zona da nossa aérea onde a mata
era mais cerrada. O guia era como sempre um preto informador da pide
conhecia os trilhos da zona. Caminhámos durante toda a noite com
algumas paragens para nos certificarmos que estávamos todos,
nunca tínhamos caminhado de noite, era a primeira vez que o fazíamos
e aquela era como disse atrás a zona da nossa área onde a mata era
mais densa. Muitas noites tínhamos de operações no mato mas sempre
as passávamos acampados em círculo com um sentinela de vigia. Ao
recomeçar da luz diurna chegámos à zona, caminhando em fila
começamos a ouvir vozes no fundo de um vale à nossa direita. Embora
fossemos em teoria dois grupos de combate só ia connosco um
transições de infantaria, decidindo após consultar o guia que nos
disse existir no vale a nascente de um rio, separarmos-nos de modo a
podermos cercar a zona. O grupo do segundo pelotão comandado pelo
furriel mais graduado por o alferes estar ausente de férias seguiu
na direção da nascente indicada pelo guia sem levar rádio já que
o transmissões ficou no meu grupo. Estávamos os dois grupos
separados sem podermos comunicar, iniciando o meu grupo a descida
para o vale composto apenas de capim, quando estávamos a mais de
meio eis que o capim ao nosso redor começou a arder, alcançando o
grupo um pequeno arvoredo onde nos protegemos sem sabermos nada do
que se passava com o outro grupo; havia soldados que choravam com
medo de ali morrermos queimados, outros queriam matar o guia, que
subia à copa das árvores e dizia que não avistava o outro grupo
nem a nascente do rio que estaria perto, o medo e o pânico ia-se
instalando e nessa instabilidade emocional olhei num instante os
olhos da morte frente a frente para no momento seguinte ela se
ausentar e o fogo no capim deixar de ter intensidade até se acabar a
poucos metros de nós. Terminado esse sufoco para comunicarmos com o
outro grupo demos um tiro para o ar, respondendo eles que já estavam
na nascente do rio que era também a divisão das áreas das
companhias e batalhões. Nada havia como rastos de populações. Mais
tarde já depois do regresso a Portugal encontrei um antigo alferes
dessa companhia a sul da nossa que pertencia já ao Cuando Cubango
enquanto nós pertencíamos ao Bié, dizendo-me ele que nem sequer
tinham saído do arame farpado. Então de quem seriam as vozes que
ouvimos? Quem teria deitado fogo ao capim cercando-nos?
Esta
madrugada ao sonhar com a guerra acordei como se um raio me tivesse
atingido fazendo-me crer que os pides da Catota estiveram por detrás
de tudo aquilo. Foram eles que com os seus agentes nos ameaçaram,
que nos levaram aquele vale e nos cercaram pelo fogo, porque não
encontrámos rastos na passagem das duas províncias nem nas
imediações da nascente, mas ouvimos vozes e barulhos de panelas e
tachos. Foram eles os pides que mandaram gente de sua confiança
incendiar o capim, pois há muito que não era detetada população
inimiga na zona.
Quem
irá acreditar nesta história que passados cinquenta anos se
apresenta límpida como a água dos rios do Mumbué?
Ao
ler os títulos das primeiras páginas dos jornais, balancei. Há
coisas que me custam acreditar serem possíveis, daí o ser um quase
nada tresmalhado por não me enquadrar em nenhum dos grupos políticos
que constituem o rebanho.
De
nada me serve votar em contraciclo à maioria, irei contudo
continuar a exercer a minha obrigação cívica mesmo que o meu voto
seja nulo (já não irei votar em branco porque pode servir a algum
júri mais desonesto, e, na política caseira desonestidade é
regra). Na última campanha eleitoral que se seguiu ao golpe de
Estado sujo de 7 de Novembro não ouvi nem vi nem li nada da
propaganda que os partidos políticos fizeram e disseram, para agora
continuar ausente ou ainda mais ausente na eleição para o
Parlamento Europeu, órgão inútil pelo seu próprio estatuto no
contexto europeu já que sendo o único órgão cujos parlamentares
são eleitos por voto em sufrágio, não têm poder executivo, nem de
intervenção nas políticas de uma Comissão que não é sufragada
pelos europeus, sendo escolhida há muito em função de interesses
exteriores à própria Europa. Como tem acontecido em eleições
anteriores irão os partidos e políticos na sua campanha para o
parlamento das mordomias atacarem-se com as políticas de roupa suja
caseira e nada dirão sobre os problemas estratégicos da União para
o futuro próximo, que União iremos ter? Uma federação criada nas
costas dos europeus obediente aos interesses americanos? Ou uma
confederação que respeite as diferenças entre os vários países e
regiões, que seja independente dos diversos imperialismos, voltada
para o bem estar dos europeus, recuperando o humanismo que após a II
GG permitiu o progresso e o respeito gerando um período de paz entre
si nunca antes conhecido?
Um
título na capa do jornal Público levou-me a comprá-lo em papel.
Tenho recuperado o velho hábito de ler o jornal. Com paciência li o
que escrevem alguns ilustres da nossa praça, gente com quem não me
identifico não deixando porem de acompanhar sendo a leitura do que
escrevem necessária para o meu distanciamento deles e do rebanho
onde são personagens escutados com atenção.
Depois
dediquei mais tempo aos artigos sobre a forma como o Fundão está a
olhar os imigrantes e a discussão sobre as contas e a dívida
pública. Sobre estas e outras na minha atividade profissional ao
longo dos anos aprendi que os resultados finais fabricam-se. Nos
primeiros anos de trabalho um senhor engenheiro, pessoa de idade e
muito saber, contou-me a história do industrial do norte que um dia
chamou à sua presença, a advogado, o engenheiro da produção e o
técnico de contas (hoje contabilista certificado), todos sentados na
mesa de reunião lançou a seguinte questão, - dois mais dois
quantos são?. O advogado pediu algum tempo para poder consultar
jurisprudência porque a letra da lei pode não corresponder ao
espírito do legislador. O engenheiro da produção homem de cálculos
certos e eficazes pediu para poder verificar a tendência se o
resultado seria bem o quatro ou teria algo mais na sua vizinhança
quer a direita quer à esquerda. Por fim o técnico de contas, agora
contabilista certificado, voltou-se para o industrial e perguntou-lhe
quanto é que o senhor quer para o resultado?
Claro
que a contabilidade da macro economia das contas publicas é
diferente da contabilidade das empresas, mas factos modificativos
sempre existiram nas contas que uns e outros apresentam e como
vivemos um tempo onde a artificialidade impera nada dos esquemas
presumivelmente utilizados pelo anterior governo é novo ou inovador.
Já
o sucesso das políticas de integração adotadas pelo Município do
Fundão deveriam ser estudadas e implementadas pelos outros
Municípios da Beira Interior Sul, mas a mesquinhez dos políticos
que por lá existem não augura complementaridade pois o Fundão é
gerido pelo PSD e os municípios que o rodeiam são de gestão PS
(Covilhã, Castelo Branco, Idanha a Nova e Penamacor).
Gostei
de ver o Sporting campeão. Vi o jogo de sábado em Alvalade. Vi
ontem a segunda parte do Benfica em Famalicão. É certo que os
jogadores ontem no seu íntimo sabiam que o campeonato estava
perdido, mas ao longo da temporada foram equipas com modelos
diferentes no jogo coletivo sendo que a diferença pontual não
traduz a diferença do que uma e outra equipa produziram.
Não
são só as aquisições de milhões propaladas pela comunicação
social amiga e oficiosa como grandes feitos por grandes jogadores que
fazem coletivos fortes, e, o futebol é um jogo coletivo de momentos
onde os melhores se evidenciam.
Isto
sou eu a falar que gosto do Sporting. Outros terão opinião
diferente.
Lá
fui à manifestação agendada para começar no Marquês de Pombal.
Ao apanhar o comboio regional vi jovens de cravo na mão, uma jovem
até tinha uma tatuagem quase no ombro com uma G3 e o cravo encarnado
na ponta da arma. Não sou de levar ou andar de cravo vermelho na mão
ou ao peito. Fui sem nada que chamasse a atenção, gosto
de passar despercebido.
Foram muitos os anos que por mim passaram sem que tivesse tido
vontade em participar. Mesmo este ano, mais importante que a
celebração dos cinquenta anos quis
ver e sentir o pulsar dos que como eu participavam
não na festa mas na manifestação de
amostragem às forças
saudosistas do Estado Novo em versão século XXI, que
ainda há quem não se ilude com as meias verdades e mentiras que
difundem através dos órgãos amigos da
comunicação social.
Contudo,
senti que aquele mar de gente estava na onda da festa e não no
sentimento da importância que a mesma poderia e deveria ter. Não
vejo os slogans «25 de Abril Sempre» ou «25 de Abril Sempre,
Fascismo Nunca Mais» como atuais. Devo estar enganado ou como me
tresmalhei do rebanho ter-me-ei desatualizado.
Do
25 de Abril de 1974 pouco, muito pouco resta, embora o que sobrevive
desse tempo de sonho, seja muito importante, mas de tudo o que se
alcançou resta-nos a Liberdade de expressão, o anémico Serviço
Nacional de Saúde e a mais fraca Escola Publica, tudo o resto os
governantes mais
e menos liberais, cumprindo ordens de Bruxelas, têm desbaratado a
troco de mãos cheias de nada, dando ou vendendo uma vida ilusória,
de um facilitismo sem
alicerces capaz de resistir aos tempos negros que se aproximam.
Como
a Avenida estava enchendo-se rapidamente, no Marquês olhei à minha
volta e ouvindo um carro com música dos Xutos e Pontapés, pensei
onde é que eu estava. Não está em casa a qualidade dos Xutos mas o
que é que aquela musica-canção tinha a ver com o 25 de Abril?,
então olhei a Avenida e ao
ver muitas bandeiras brancas pensei ser talvez a frente da
manifestação, mas eram afinal sindicalistas de um sindicato que não
identifiquei. Devagar fui descendo e observando não só a Avenida
como os passeios laterais com muita muita gente; os do partido
Comunista tinha uma larga faixa da Avenida isolada só para eles,
ouvi a musica de Grândola Vila Morena mas sem grande participação
popular. No cruzamento com a Alexandre Herculano parei, tirei umas
fotos incluindo fotos ao senhor que no tempo da pandemia desceu
sozinho a Avenida com a sua grande bandeira nacional; por ali estavam
estacionados vários carros de polícia com elementos neles sentados
com máscara deixando ver apenas os olhos, observando o pulsar das
gentes um jornalista de uma rádio que não identifiquei fez-me
alguma perguntas a que ia respondendo. Quando o mesmo decidiu ir
entrevistar outra pessoa dei por mim rodeado de bloquistas dos quais
me afastei de imediato, nada tenho que me identifique com aquela
gente ou com aquela
esquerda. Ao afastar-me
decidi ir descendo a Avenida como outros também o faziam, caminhando
devagar com o objetivo de chegar ao cruzamento com a Rua das Pretas
onde muito antes do 25 de Abril a esperava quando os horários das
aulas o permitiam. Ali me mantive olhando não tanto o cimo da
Avenida mas mais a Rua das Pretas, mas nem o desfile dava mostras de
se ter iniciado nem da rua das Pretas chegava o sorriso dos seus
olhos.
Com
o passar do tempo muito para lá da hora programada vendo que aquele
mar de gente vivia muito mais a festa do que o sentimento que a data
representa no tempo de agora, voltei a descer a Avenida em direção
aos Restauradores,
seguindo para o Rossio onde
muita gente já aguardava a chegada da manifestação-desfile; no
palco onde se iriam produzir os discursos músicos tocavam e
cantavam. Continuei a andar agora pela Rua Áurea em direção à
Praça do Comercio, onde me deparei com carrinhas e policias de
intervenção armados, só quando me aproximei da estátua de D. José
e ouvi vivas a Salazar e a «Deus Pátria e Família» entendi o
aparato policial, sendo que os
devotos do fascismo-salazarista pouco passavam das duas dezenas. Em
frente à
Estação Sul e Sueste apanhei o Metro para Santa Apolónia e voltei
serenamente para casa.
Fui
com alguma curiosidade e ilusão, voltei com menos ilusões, não me
revejo naquela multidão.
Face
ao golpe de estado de 7 de Novembro passado promovido pela aliança
PR-PGR, a manifestação do 25 de Abril, passados 50 anos da data
gloriosa, deveria ter sido de pesar, de um luto silencioso de modo a
impor respeito, pondo-os em
sentido, aos que “feridos
de anulabilidade” foram
eleitos deputados e indigitaram um novo governo.
Mas
isto sou eu, o Carlos, que vivo tresmalhado dos diversos rebanhos.
Há
cinquenta anos tinha um sonho, um objetivo, naquelas terras de quase
fim do mundo: - voltar são e salvo para o colo de minha mãe,
abraços de meu pai e irmão.
Naquela
terra do Mumbué, naquelas
matas infindáveis, naquele
retângulo de arame farpado não se sabia de nada do que se passava
no «Puto»,
ali só tínhamos um saber, sobreviver.
Na
gloriosa data, também uma quinta-feira, nada se soube durante o dia,
apenas quando acabou a sessão de cinema que por lá passava de
quinze em quinze dias, o comerciante sr. Pato nos informou ter havido
um golpe no «Puto», questionado sobre quem teria efetuado tal golpe
nos disse que lhe parecia ser um tal general Kaúlza, agradecemos a
informação e sem mais nada lhe dizermos pensámos «estamos
fodidos, nunca mais vamos sair daqui», depois fomos dormir sem mais
pensarmos no que teria acontecido na nossa Pátria.
Só
no dia seguinte, vinte e
seis, soubemos pelos rapazes
das transmissões que afinal o
golpe tinha sido efetuado
por capitães do quadro
permanente.
Algo
estava a acontecer de anormal, pois as altas patentes do Exército e
da Província que estavam programadas para no
dia seguinte, vinte e seis,
irem entregar as chaves das
casas aos dois grupos de
GE’s afetos à Companhia que deveriam chegar pelo ar, não
apareceram sendo substituídos pelas patentes superiores do Sector de
Silva Porto que assim como chegaram, distribuíram as chaves aos GE’s
e logo partiram nas suas viaturas.
Expectativa
ansiosa sobre o nosso futuro passou a reinar, a crença de que
iríamos regressar sãos e salvos ganhou força em cada um de nós
jovens militares combatentes naquelas terras de quase fim do mundo.
Hoje,
cinquenta anos passados, ouço e vejo frases que não entendo; o
inexistente futuro não se constrói apenas com frases saudosistas do
que foi o 25 de Abril de 1974, é preciso muito mais porque «a luta
continua» tão ou mais
difícil do que então. Luta que as gerações mais novas têm de
travar se querem um país mais decente do que o atual, porque o sonho
comanda a vida e nunca nada esta acabado, muito menos derrotado.
Há
quarenta e alguns anos que não vou a uma manifestação, mas hoje
este velho sem velhice irá voltar a participar na manifestação
pelo 25 de Abril, pelo sonho e esperanças que Abril deu à minha
geração e ao meu país.
Às
vezes tenho vontade de dizer “bom dia” mas ninguém está ao meu
lado
Às
vezes ainda sonho não deixando a solidão deitar-se ao meu lado
Às
vezes tenho dias em que sentado na minha cama olho pela janela do meu
quarto a chegada da aurora
Às
vezes sentado na cama leio o pequeno livro que tenho na mesa de
cabeceira, “Espiral de Violência” de Dom Hélder Câmara que
comprei a 29 de Novembro de 1971, na Cooperativa Livrelco
Já
naquele tempo andava por caminhos perigosos que nos ensinavam a
pensar nos porquês da vida e da própria humanidade
É
longo este meu caminhar, levando-me a ser um tresmalhado nos tempos
que correm, um ser solitário que às vezes gostava de dar um beijo e
dizer “Bom dia” a quem não está ao meu lado.
Que
fazer?
Só
há um caminho, seguir caminhando levando a esperança por companhia,
O
resto já pouco importa, já não tenho futuro, já não me iludo,
apenas sonho
Sou
o Carlos, um tresmalhado sem futuro que ainda alimenta algumas
esperanças
Escrevo,
leio, ouço músicas antigas, planto, semeio, rego e tudo faço com
amor, mesmo que ao meu lado não tenha a quem dizer “boa noite”
dando-lhe um beijo na testa.
Que
irei escrever se tenho passado estes dias fora do mundo que me
rodeia?
O
tratar das ervas do quintal castiga o corpo habituado ao sedentarismo
citadino nos arrabaldes da cidade grande. Chego às dezoito horas e
sento-me para olhar o que me diz o telemóvel. Notícias e mais
notícias que pouco me dizem já que não me integro em nenhum dos
grupos do rebanho. Dos novos governantes nada espero, tal como os
anteriores não me indiciam boas novas; gente que se servem mais do
poder do que o normal, uns e outros criaram uma corte de nobres
republicanos submissos pouco patriotas, gente que se curva e
prostitui perante os agentes da oligarquia financeira colocada em
Bruxelas. Não os acompanho. Prefiro andar com o corpo dorido a
limpar as ervas no meu quintal.
Saímos
um pouco mais cedo para a volta matinal. Fui olhar de novo as
oliveiras no Chão da Horta. Depois do pequeno almoço fui até
Idanha a Nova. Na praça gastei dez euros em fruta, no talho comprei
uma morcela, uma linguiça, um chouriço bofeiro, meio quilo carne de
vaca para cozer e um quilo de bife de vitela, deixando lá vinte
euros, passei pelo Intermarché e gastei mais trinta euros. No
regresso passei na fonte dos Tourinhos e enchi três garrafões de
água.
No
restante tempo da manhã cinzenta tentei arrumar a tralha que está
na parede trás da casa assim como a lenha de sobro, azinho e
oliveira que tinha trazido do chão quando com o Zé cortamos à
revelia das autoridades quer a sobreira quer os azinheiras que
proliferam junto ao muro do chão.
Para
o almoço cozi batata doce, cenoura e brócolos para acompanhar a
morcela e metade da chouriça assadas. Tudo a preceito com um copito
de tinto da região de Palmela que o meu amigo Justo me trouxe quando
vieram comer a bexiga de porco.
Passei
a tarde no quintal, primeiro a lavrar a parte do terreno onde
arranquei as ervas para lá plantar os tomateiros e pimentos. Depois
de lavrado, arranjei-o e ainda plantei junto à laranjeira uns pés
de aipo. Às seis da tarde acabei, ainda pensei em começar a plantar
os tomateiros mas desisti, o cansaço pede descanso.
Agora
vejo o jogo do Sporting ansioso e a sofrer, de novo o Benfica domina
o meio campo com alguns jogadores do Sporting mal no jogo.
Nestes
dias chuvosos mais cinzentos que primaveris vivo semi-fechado no meu
mundo, leio artigos de uns e de outros, leio livros e escrevo
sentimentos, mas
sinto
a indiferença tomar conta de mim. Não foi este o modelo de vida com
que sonhei,
não foi para isto que tantos lutaram e outros
morreram,
mas é o que afinal os cidadãos escolheram, não tendo eu saberes
para analisar e opinar sobre o tema do
porque da escolha,
olho para a história do meus país e até
compreendo. Que fazer se o meu voto de
tresmalhado apenas vale
um cagagésimo
de quase nada.
Resta-me
nesta Páscoa e no tempo que há-de vir viver serenamente comigo em
busca da Paz, não perder a esperança dos meus sonhos, porque
dificilmente irei mudar já que burro velho não aprende lição
nova. O dinheiro há de chegar para cumprir as minhas obrigações,
cuidar do meu canto e viver serenamente cuidando de mim da minha
cadela e gatita sem esquecer as velhas oliveiras.
O
rebanho agita-se por questões políticas; há burgueses a ficarem
inquietos com a nova composição da Assembleia da República, onde
um presumível terrorista do designado ”verão quente” chegou a
vice-presidente da mesma. Gente aquela que se recusa a olhar e
analisar os factos históricos quer do passado longínquo quer do
recente, vivendo agora essa a fação do rebanho sobressaltada e
preocupada com a ascensão do presumível integrante e ideólogo do
MDLP ou ELP (organizações terroristas inimigas do 25 de Abril),
esquecendo, uns de modo próprio outros por pura ignorância burguesa
desta nova ordem democrática quem é que posteriormente reabilitou e
condecorou o “chefe” desertor militar de uma das sinistras
organizações, concedendo-lhe uma medalha promovendo-o também a
Marechal. Tudo gente do Novembro que Abril não merecia.
Não
vivo neste tempo, resisto mas não vivo. Sei que sou um velho que se
reconhece como tal, não deixando que a velhice tome conta de mim,
sou assim um velho sem velhice tresmalhado que vai caminhando na
outra margem da vida levando às costas setenta e três anos de vida
vivida do meu jeito de ver o mundo.
Não
vivo neste tempo, fechei-me no meu mundo de sonhos, utopias e
lembranças, não deixando de olhar atento ao que se passa lá fora
com as movimentações do rebanho.
Tenho
a minha casa, os meus chões de oliveiras, a minha cadela e a minha
gatinha, a minha reforma, se esta sofrer cortes os três iremos
adaptarmo-nos, pois seguros só tenho os obrigatórios para poder
andar conduzindo, irei aguentar porque já nada espero deste meu
país, incapaz que foi de trilhar o seu próprio caminho após o
redentor 25 de Abril.
Não
tenho nenhum respeito pela quase totalidade dos políticos que se
sentam no palácio em S. Bento, sendo que, aqueles a quem guardo
ainda algum respeito por mais ideias e propostas válidas que
apresentem não terão eco na comunicação social dominante mais
interessada em continuar a alienar as mentes submissas do rebanho, a
culpa também será desses políticos, aliás todos temos a sua dose
de culpa ao termos chegado e permitido que o país esteja caminhando
submisso a interesses exteriores de falsos amigos, mas enquanto puder
cá estarei para ir prestando atenção ao que se passa, continuando
a minha caminhada serena pela outra margem desalinhado e tresmalhado
mas consciente.
O
futuro pertence aos jovens sendo já tempo de se fazerem à vida,
sujeitando-se aquilo que escolherem deixando de viver debaixo das
asas dos progenitores. A vida que hoje levam indiferentes às lutas
que no passado os mais velhos encetaram e sofreram irá ensina-los
que o caminho se faz não só caminhando como lutar e resistir são
necessários, nunca é tarde para se sonhar por um país melhor, mais
decente tomando consciência que o sistema capitalista consumista e
egoísta do individualismo não produz bons frutos havendo que mudar
a agulha da vida numa outra direção que esta nos está a levar ao
abismo.
Cumpri
ontem cinco meses sem ver televisão com a exceção dos jogos de
futebol do Sporting sem som, não só não me interessa o que dizem e
propagandeiam os papagaios e catatuas sem penas televisivos, como me
irritam o sistema nervoso.
Sinto
que a minha saúde mental está mais serena sem os ouvir nem ver.
Leio
as capas dos jornais e alguns artigos que neles se publicam. Ainda
existem neles pequenas ilhas de gente séria mas a grande maioria, na
minha insignificante opinião, são a “voz do dono”. Como não
gosto de lacaios em boa hora decidi não pactuar com o que uns e
outros dizem em quase uníssono.
Não
me sinto nem mais
nem menos
do que os outros, sendo um quase nada de um velho sem velhice que
viveu e vive a vida olhando e vendo o que não nos dizem nem nos
mostram os senhores do poder e
seus agentes, bobos e servos de serviço. Há quem se venda, outros
atualizam-se, uns por meia dúzia outros por dúzia e meia de tostões
ou por um “tacho” para o filho, neto, enteado ou aperfilhado sem
esquecer a amiga dos amigos. A “cunha”, o “conhecimento”, um
“bom padrinho”, não foram afetados pelo 25 de Abril, tremeram
mas logo
recuperarem importância no novo velho sistema de compadrio da
sociedade sendo hoje mais
sofisticados ao mesmo tempo
que são
descarados sempre cobertos
com paleio democrático.
Se
estivesse
no meu canto num dia como o de hoje em que a chuva voltou assim como
as baixas temperaturas, teria coisas úteis a fazer quer na pequena
casa, quer no sótão ou mesmo no quintal onde imagino o tamanho das
ervas e urtigas a crescerem livremente, já que a chuva este ano nos
tem visitado agradavelmente. Mas como ainda estou nos arrabaldes da
cidade grande, depois do passeio matinal com a Sacha a vida volta ao
sedentarismo normal dos dias
citadinos.
A
Alexandra fez hoje anos.
Quarenta anos de vida cheia de força, com uma capacidade de pensar
sublime nunca, na agora sua cadeira de rodas, se considerando
deficiente já que é apenas diferente de
nós mas não incapaz.
Ela,
filha de de um operário a
mãe doméstica, terceira filha do casal,
que com a sua licenciatura em psicologia do trabalho pelo ISCTE
candidatou-se
um dia a um Banco entre milhares de candidatos; os examinadores ao
verem-na a andar com as suas muletas pensaram logo em eliminá-la,
pondo-a a fazer de imediato a prova de matemática enquanto todos os
outros faziam a prova estipulada de português. Viu, percebeu a
intenção do que
pretendiam, mas como é
apenas diferente com a sua
capacidade de análise e de
saber fez não
só a prova de
matemática como todas as outras classificando-se em primeiro lugar.
O banco admitiu-a, mas na primeira oportunidade em que houve
despedimentos, não olhando ao seu desempenho no trabalho, logo a
integrou na listagem dos que mandou para o desemprego.
Não
há uma palavra de azedume contra os que a veem como aquilo que ela
não se julga, já que é apenas diferente e não deficiente.
Trabalha
por conta própria a partir de sua casa apenas
com seu telemóvel, sabe
diversas línguas andando agora a aprender estudando
mandarim.
A
Alexandra nos seus quarenta anos é um poço de energia, de saber e
capacidades várias desperdiçadas por uma sociedade doente onde o
ter e o parecer vale muito mais do que a
essência e a capacidade do próprio ser.
Quando
há cerca de dez anos comecei a andar pelos designados trilhos da
beira rio, comecei a ver cartazes da autarquia publicitando novas
obras para os designados trilhos.
Passam
os anos, passam os políticos que se sentam nas cadeiras do poder
autárquico e novos e diferentes cartazes são afixados, já o
anterior agora “meio à banda” anunciava a adjudicação da obra
à empresa do grupo económico do regime, onde antigos ministros e
até figuras do corpo diplomático existem como lobistas e fazedores
de opinião em televisões onde desempenham o papel da «voz do
dono».
É
o que nos servem, cartazes pagos a amigos com o dinheiro publico e
assim vamos caminhando olhando apenas as flores murchas no jardim
ignorando a floresta das promessas e dos gastos sem utilidade
publica.
É
o que nos servem. É o que temos.
Depois,
há quem se admire dos resultados eleitorais, procurando culpar os
outros, porque de tão fixos nas televisões do sistema não veem nem
sabem por desconhecimento o que se vai passando na realidade crua da
vida.
À
mulher de César não bastava ser séria, mas aos auto designados
políticos de esquerda não basta a publicidade de obras a realizar
que passam de mandato para mandato, sempre com novos cartazes
publicitários elaborados com fotografias muito bonitas de uma
realidade que não se vê no terreno ano após ano, mandato após
mandato.