quarta-feira, 24 de novembro de 2021

21.11.01

 

Quando eu era menino tenho ideia que por esta altura os meus pais recebiam uma pequena sesta despachada pelos meus avós na Zebreira e que recebíamos passados alguns dias depois. Nessa pequena sesta lá vinha o “Santoro” para cada um dos dois netos.

Depois, já mais crescido, nessa altura praticante religioso que depois da missa matinal, juntávamo-nos os rapazes em grupos e íamos de casa em casa pedir o “Pão por Deus”. Entre pevides e tremoços lá ia mais uma caneca de «água pé» tirada do barril que os homens mais velhos nos davam se a bebêssemos numa caneca de louça das Caldas bem acondicionada no seu interior. E assim dias antes do S. Martinho se fazia jus ao velho ditado «… vai-se à adega e prova-se o vinho» que no caso era muito mais a boa «água-pé» (até isso os liberais de Bruxelas nos tiraram).

Segundo a cultura católica o dia seguinte, ou seja o dia 2 de Novembro, era o dia de “Finados” e era neste dia que os cemitérios se renovavam de flores com a visita que já nesse tempo eram os mais velhos que a faziam.

Com o desenvolvimento da sociedade consumista, com a perda de influência que a igreja católica foi sofrendo na vida coletiva da sociedade, o designado “Dia de Todos os Santos” passou a incorporar a tradição do dia seguinte, ou seja, do dia de “Finados”.

Mas na sociedade consumista quem manda é o “Mercado”. É ele que dita as leis, que cria os novos hábitos. Hábitos que logo transforma em tradição, mesmo quando a velha tradição da sociedade católica era mesmo antagónica aos novos hábitos impostos pelas necessidades do santo e glorioso Mercado, como é o caso do famigerado dia das bruxas. Até me lembro dos avós e pais comprarem pequenos amuletos com “figas” para usarmos no peito de modo a evitarmos os maus agouros, os maus olhados e invejas das bruxas. (Chama-se figa a um gesto mágico que se obtém com a mão fechada de maneira que o dedo polegar sobressaia dentre o indicador e o médio).

Mas tudo muda na vida, a única constante é a do tempo e, mesmo esta já há quem tenha duvidas. Hoje vivemos prisioneiros em liberdade pelas leis do santíssimo mercado que despromoveu para segundo plano hábitos e tradições da sociedade conservadora católica.

É a vida! Por isso e por outras é que não acredito e não dou atenção aos santos agentes do Mercado reunidos num tal G20 e agora num tal COP26. Aqueles concílios dos santos agentes do Mercado são inúteis como temos visto e constatamos dia a dia se nos dermos ao trabalho de vivermos com os olhos bem abertos lendo as entrelinhas do que não nos dizem e ouvindo o importante que faltou nos discursos de palavras redondas e inofensivas aos interesses dos «deuses» que elaboram as santas leis do Mercado.

Ainda irão correr muitos anos e já cá não estarei para observar que quando o mar começar a deixar debaixo de água muitas zonas do nosso litoral, nessa altura o pobre, o esquecido e abandonado interior raiano irá ver os seus campos e pequenas cidades a valorizarem-se meteoricamente invadidos pelas populações em fuga do litoral, ignorando muitos deles que há milhões de anos todo aquele território esteva debaixo das águas do mar como comprovam os fosseis marinhos encontrados no Parque Icnológico de Penha Garcia.

O céu está sempre a observar” (escreveu Mitch Albom)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.